Bad Bunny no Super Bowl: jogada de mestre ou hipocrisia?

Bad Bunny no Super Bowl uma jogada de mestre ou hipocrisia?

O ano é 2026, e o Super Bowl LX tem seu headliner: Bad Bunny.

O nome de Benito Antonio Martínez Ocasio, o artista mais streamado do planeta , foi confirmado para o show do intervalo no Levi’s Stadium, Califórnia, no dia 8 de fevereiro.  

A escolha de Bad Bunny no Super Bowl é, sem dúvida, um triunfo cultural gigante. É a coroação definitiva do reggaeton e da música latina no mainstream americano.

O próprio artista declarou que a apresentação é uma vitória para “minha gente, minha cultura e nossa história“. Celebridades como Jennifer Lopez e Shakira o receberam de volta ao palco do Super Bowl.  

Mas, vamos ser sinceros: essa escolha carrega uma contradição no mínimo polêmica.

O ICE e o boicote à turnê: a polêmica central

Apenas algumas semanas antes do anúncio do Super Bowl, Bad Bunny estava nas manchetes por uma decisão política radical: ele havia excluído os EUA de sua turnê mundial.

O motivo? A equipe de Bad Bunny estava “muito preocupada” com a possibilidade de batidas policiais do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE) na frente dos locais de shows, colocando seus fãs latinos e indocumentados em risco de deportação.

Em essência, ele disse: “para protegê-los, prefiro que venham a Porto Rico ou México”.  

Bad Bunny no Super Bowl e a polemica sobre o boicote aos EUA
Sobre a questão do boicote, o artista revelou que “para protegê-los (seu público), prefiro que venham a Porto Rico ou México. Fonte: GC Images

A grande questão: o Super Bowl é uma exceção?

Aceitar a performance de 13 minutos no Super Bowl LX, o evento mais assistido nos Estados Unidos e com mega audiência mundial, transforma o ativismo de Bad Bunny em um dilema.

Como o país que ele ativamente boicotou por temer o ICE se torna, subitamente, o palco para sua “única data nos Estados Unidos”?  

A resposta é complexa, mas aponta para o cinismo corporativo.

A NFL e a Roc Nation (parceira de produção onde Jay-Z é o proprietário) precisam desesperadamente do público jovem e global que só Bad Bunny pode trazer. Eles usam a imagem de resistência dele para parecerem inclusivos, ao mesmo tempo que ignoram o medo que causou o boicote à turnê.  

A apresentação de Bad Bunny no Super Bowl é um santuário de prestígio, onde o aparato de segurança do evento minimiza o risco, mas o preço é a suspeita de hipocrisia.

Bad Bunny: o símbolo político inevitável

Bad Bunny é mais do que um artista pop; ele é uma voz política.

  • Língua e Cultura: Ele provou que álbuns inteiramente em espanhol podem dominar o streaming global, elevando a cultura e a identidade porto-riquenha.  
  • Ativismo de Porto Rico: Ele usa sua fama para criticar a ignorância americana sobre o status colonial de Porto Rico e até já se manifestou contra políticas anti-imigração, vestindo camisetas com mensagens políticas diretas.  

Essa combinação garante que a performance de Bad Bunny no Super Bowl seja altamente polarizadora.

Super Bowl: um palco que adora a polêmica filtrada

A NFL opera sob regras rigorosas. Desde o escândalo do “Nipplegate” de Janet Jackson em 2004, a liga evitou controvérsias visuais .

No entanto, o ativismo político é permitido, desde que seja gerenciado.

  • O Filtro da Censura: Para garantir que nenhuma “gafe” (visual ou verbal) vá ao ar, todas as transmissões do Super Bowl para a TV utilizam um delay (atraso) de pelo menos cinco segundos. Essa é uma precaução de segurança que permite à emissora excluir ou censurar o conteúdo antes que ele chegue aos milhões de telespectadores, garantindo que a NFL mantenha o controle sobre a mensagem.

Shows Lendários: A história mostra que a liga tolera o ativismo, desde que seja filtrado

Janet Jackson (2004): O famoso “Nipplegate” gerou anos de shows “seguros” com artistas de rock clássico, focando na censura visual.  

Beyoncé (2016): Ativismo sutil ao performar Formation, um hino de empoderamento negro, carregado de subtexto contra a brutalidade policial.  

Kendrick Lamar (2025): O rapper premiado pelo Pulitzer entregou um show cheio de comentários sociais e críticas à sociedade americana. Foi um precedente claro de que a NFL agora busca artistas com uma mensagem.  

Bad Bunny no Super Bowl - Kendrick Lamar no Super Bowl 2025
Kendrick Lamar no Super Bowl 2025 (clique na imagem para assistir)

O Filtro do Espanhol: O fato de Bad Bunny cantar principalmente em espanhol funciona como um “filtro político”. Sua crítica social será clara e ressonante para a audiência latina, mas pode ser interpretada pelo público mainstream apenas como um espetáculo exótico e diversificado.  

O veredito polêmico: necessário ou vendido?

Poderia ter tido uma escolha melhor que Bad Bunny?

Se a NFL buscasse um nome “seguro”, teriam escolhido artistas como Taylor Swift ou Adele (ambas foram cotadas, mas não aceitaram ou as negociações falharam).  

A escolha de Bad Bunny no Super Bowl é uma declaração de que a NFL agora busca o hype da polarização cultural.

Para Bad Bunny, essa é a maior plataforma global para amplificar as vozes de sua cultura. A hipocrisia de furar o boicote é um risco calculado: trocar o ativismo prático de uma turnê por um triunfo simbólico que pode mudar o jogo da música latina para sempre.

Ele precisa que esses 13 minutos sejam um manifesto inesquecível para provar que a exceção valeu a pena.

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Fontes:

Bad Bunny será el encargado del Halftime Show del Super Bowl | https://www.metro.pr/entretenimiento/2025/09/29/bad-bunny-sera-el-encargado-del-halftime-show-del-super-bowl/

Bad Bunny evita shows nos EUA por risco de batidas contra imigrantes | https://www.swissinfo.ch/por/bad-bunny-evita-shows-nos-eua-por-risco-de-batidas-contra-imigrantes/89991260

Bad Bunny to headline 2026 Super Bowl half-time show | https://www.theguardian.com/music/2025/sep/29/bad-bunny-to-headline-2026-super-bowl-halftime-show

Bad Bunny says he didn’t include US in tour dates due to ‘f***ing ICE’ fear, despite Super Bowl Halftime announcement | https://www.reddit.com/r/Music/comments/1ndktpu/bad_bunny_says_he_didnt_include_us_in_tour_dates/

NFL anuncia Bad Bunny como artista do show do intervalo do Super Bowl | https://jovempan.com.br/esportes/nfl-anuncia-bad-bunny-como-artista-do-show-do-intervalo-do-super-bowl.html

Why Bad Bunny is the perfect pick for the 2026 Super Bowl Halftime Show in California | https://timesofindia.indiatimes.com/sports/nfl/news/why-bad-bunny-is-the-perfect-pick-for-the-2026-super-bowl-halftime-show-in-california/articleshow/124204405.cms

Bad Bunny Super Bowl 2026 Shock: Will Puerto Rican Superstar Snub English Songs on NFL’s Biggest Stage? | https://www.ibtimes.co.uk/bad-bunny-super-bowl-2026-shock-will-puerto-rican-superstar-snub-english-songs-nfls-biggest-1745654

At Home With Bad Bunny: “I’ve met a lot of gringos who come to me talking about Puerto Rico [becoming] a state…” | https://i-d.co/article/bad-bunny-puerto-rico-residency-issue-375-cover

Kendrick Lamar’s Super Bowl half-time show review | https://www.theguardian.com/music/2025/feb/09/kendrick-lamars-super-bowl-half-time-show-review-game-over-for-drake

Taylor Swift out of Super Bowl Halftime Show after NFL flatly refused to meet her demands | https://www.financialexpress.com/life/entertainment-taylor-swift-out-of-super-bowl-halftime-show-after-nfl-flatly-refused-to-meet-her-demands-3993539/

MAGA rages after NFL picks ‘Trump Hater’ Bad Bunny for 2026 Super Bowl halftime show | https://www.independent.co.uk/news/world/americas/us-politics/bad-bunny-super-bowl-halftime-show-maga-b2835770.html

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