Lançado em 18 de julho de 2025, Headlights representa o décimo álbum de estúdio de Alex G (Alexander Giannascoli) e, ao mesmo tempo, sua estreia em grande gravadora, pela RCA Records. Conhecido por seu som lo-fi caseiro e criação quase artesanal, Alex faz aqui uma transição delicada — mantendo sua essência curiosa e emocional mesmo diante de mais recursos e planejamento.
Uma virada sonora sem abandonar a intimidade
Depois do giro sonoro mais espaçoso de God Save the Animals (2022), Headlights mergulha ainda mais fundo em camadas sonoras mais refinadas — synths etéreos, riffs reverberados, arranjos cinematográficos e instrumentos como mandolins, violinos e cordas que escorregam a elegância do indie rock clássico de Elliott Smith ou R.E.M. Tudo isso sem perder a marca emocional que sempre moveu o músico.
Ao longo do álbum, Alex embarca em reflexões sobre fama, sucesso e a pressão de crescer artisticamente. Em faixas como “Is It Still You in There?”, ele se pergunta se ainda é a mesma pessoa após todas as mudanças. Em “Beam Me Up”, canta:
“Some things I do for love / Some things I do for money…”
— uma frase que mistura humor, confissão e tensão pessoal ﹘ pontuando as escolhas entre integridade e sobrevivência financeira.
Em “Real Thing”, suas letras revelam dúvida:
“Hoping I can make it through to April / On whatever’s left of all this label cash / No I never thought I was the real thing.”
Com sintetizadores tipo flauta-pã e arranjos leves, a música equilibra sinceridade lírica com suavidade sonora.
Destaques das músicas: imagens, sotaques e paisagens
- “Afterlife”, primeiro single do álbum, traz mandolim brilhante, falsete sutil e ecos de nostalgia televisiva, como se fizesse uma ponte entre memórias e raios de luz existenciais. É uma faixa que combina leveza, familiaridade e estranheza ao mesmo tempo.
- Em “Louisiana”, vocais distorcidos e uma batida shoegaze-amarrada mostram que Alex ainda gosta de sutis explosões de ruído, lembrando que sua veia experimental continua viva mesmo em um contexto mais limpo.
- Faixas como “June Guitar”, “Oranges” e “Far and Wide” adicionam texturas folk e ambientações suaves com sintetizadores, cordas ou elementos acústicos — criando climas que oscilam entre o íntimo e o contemplativo.
Um álbum polido, mas nem sempre contagiante
Algumas críticas apontam que, apesar de bem produzido e coeso, Headlights perde um pouco do impacto visceral dos Álbuns anteriores de Alex, que traziam tanto intensidade quanto estranheza sonora. O álbum é seguro, elegante e muitas vezes sedutor — mas nem sempre leva os arrebatos que um ouvinte espera.
A produção mais contida lembra um indie “chill” com sabor limpo, mas falta aquele elemento imprevisível que o fez cult favoritado por fãs do estranho e do imperfeito. Ainda assim, melodias como a de “Afterlife” ou a atmosfera relaxada de “Real Thing” mostram que o talento melódico permanece intacto.

Processo criativo: solitário, mas coletivo
Apesar de gravado em estúdio com apoio técnico, quase todos os sons foram tocados e criados por Alex, com produção ao lado de Jacob Portrait, que já trabalha com ele desde God Save the Animals.
A única exceção é “Logan Hotel (Live)”, última faixa do disco, que registrou Alex com sua banda de turnê tocando ao piano num hotel em Philadelphia. Foi uma escolha consciente: incluir os músicos “reais” que estão com ele ao vivo, trazendo autenticidade à construção final do álbum.
Maturidade lírica e emocional
No geral, as letras continuam enigmáticas, mas assumem um tom mais direto. Em alguns trechos, Alex admite suas ambições e fragilidades, sem disfarçar os dilemas entre arte e dinheiro, solitude e exposição. Há um salto na forma de se posicionar — menos escondido atrás do ambient, mais disposto a se mostrar vulnerável.
Alex G passou de artista cult do underground para algo maior, sem virar um produto industrial. Headlights é esse ponto de virada: sua jornada do lo-fi caseiro para um som mais polido dentro de uma grande gravadora, com temas universalizantes sem perder sua sensibilidade particular.
Para quem ouviu Rocket, House of Sugar e God Save the Animals, este álbum pode soar mais contido — mas faz sentido como próximo passo: menos caos emocional, mais clareza emocional. E, ao mesmo tempo, mais risco em expor sua intimidade de modo direto.
Para ouvir no aconchego
Headlights é um registro estupendo de onde Alex G está agora — consciente da fama, dos compromissos e ainda profundamente fiel à sua arte. O álbum não explode em grandes hooks, mas brilha nas pequenas fissuras: nos momentos que soam confessionais, nos arranjos pensados como memórias líquidas, na honestidade de quem se questiona e ainda vive.
Não é um disco para clubes ou trilhas virais — é um convite pra baixar as luzes e ouvir em um ambiente calmo. Um indie-rock adulto, meditativo e elegante, que mostra que Alex G está mais em paz com seus limites e ambições do que nunca.
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