Recentemente foi anunciado que a MTV vai encerrar os cinco canais exclusivamente musicais no Reino Unido até o fim de 2025. Em outras palavras, aquelas antigas faixas de clipes ininterruptos estão dando lugar a reality shows e entretenimento. Essa notícia chocou muita gente e faz a gente voltar no tempo. Afinal, a MTV não foi só TV: foi um fenômeno que moldou gerações inteiras, descobriu artistas e mudou a forma de consumir música. Vamos passear por essa história mundial – com um pit stop especial na MTV Brasil para entender o legado do canal.
A MTV estreou em 1º de agosto de 1981 nos EUA com o videoclipe “Video Killed the Radio Star”. O canal de 24 horas virou febre entre os jovens, pois pela primeira vez música e imagem caminhavam juntas de forma intensa. Nos anos 80 a MTV não distribuía apenas hits pop: ela introduziu todo tipo de ritmo ao grande público. Por exemplo, depois de críticas de David Bowie, a emissora passou a exibir Michael Jackson em 1983, o primeiro clipe de “Billie Jean” foi tocado no canal e catapultou sua carreira.
Mais tarde, a MTV Europa (lançada em 1987) ajudou a difundir artistas alternativos como Björk, Aphex Twin e Blur em diversas partes do mundo. Na prática, a MTV virou um ponto de encontro global para adolescentes: foi o berço dos VJs, dos vídeos ao vivo, do MTV Unplugged e até do icônico premiado VMA. Os clipes épicos de Madonna ou Michael Jackson eram eventos (quem nunca parou para assistir a um videoclipe no fim de tarde?), e a gente aprendia moda e comportamento só de ligar na TV.
A MTV Brasil
Quando a MTV Brasil chegou em 20 de outubro de 1990, ela não foi apenas uma filial — foi uma revolução cultural. Era a primeira TV aberta brasileira dedicada exclusivamente à música, com uma linguagem jovem, atrevida e sem medo de experimentar.
Com VJs carismáticos como Astrid Fontenelle, Cazé Peçanha, Marina Person, Zeca Camargo, Gastão Moreira, Marcos Mion e Didi Wagner, o canal se tornou o ponto de encontro da juventude nos anos 90 e 2000. A MTV Brasil apresentou o país a bandas independentes e estilos alternativos, ajudando a formar uma geração inteira de ouvintes e artistas.
Programas como:
🎵 Disk MTV — onde o público votava em seus clipes preferidos, transformando fãs em parte ativa da programação.
⚽ Rock Gol — o campeonato de futebol mais insano e divertido da TV, com bandas trocando guitarras por chuteiras.
😂 Comédia MTV — responsável por revelar nomes como Marcelo Adnet e Tatá Werneck, que reinventaram o humor na TV.
🎙️ MTV ao Vivo e MTV Unplugged Brasil — que registraram apresentações icônicas de bandas como Titãs, Cássia Eller, Charlie Brown Jr. e Raimundos.
Além da música, a MTV Brasil também abriu espaço para debates sobre sexo, comportamento, política estudantil e diversidade, temas raros na TV aberta da época. Era ousada, criativa e próxima do público.
Por mais de 20 anos, ela funcionou como uma curadoria cultural para uma geração inteira — e, convenhamos, muita gente de hoje deve seu gosto musical à MTV.
Em 2013, a emissora encerrou sua transmissão em sinal aberto e passou para a TV paga, onde sobrevive até hoje, mas com uma programação muito mais focada em reality shows e conteúdo internacional. A essência da MTV Brasil original, aquela que formava gosto e atitude, ficou guardada na memória coletiva.

Por que a MTV entrou em declínio?
Com o tempo, a MTV mudou. Nos anos 90 ela já exibia 40% a menos de clipes na programação, abrindo espaço para séries, notícias musicais e reality shows (The Real World, Jersey Shore, etc.). Esses programas fizeram muito sucesso – a ponto de a gente lembrar mais deles que dos clipes. Em 2005, com a explosão do YouTube, todo mundo passou a assistir vídeo sob demanda no computador, tablet ou telefone. Já não era preciso esperar a MTV, bastava um clique online. Com isso, foram várias razões que levaram ao fim dos canais musicais:
- Mudança do público: A geração que cresceu vendo clipes migrou para plataformas online. Em vez de ligar na MTV, a galera foi para o YouTube e, mais recentemente, TikTok, onde encontra vídeos musicais e lançamentos a qualquer hora. O resultado: cada vez menos gente sintonizava nos canais de clipes da MTV, refletindo esse “declínio de público” citado pela imprensa.
- Menos clipes na grade: Conforme citado, a MTV reduziu drasticamente as horas dedicadas a vídeos musicais. Num período de 10 anos (décadas de 1990/2000), a faixa horária de clipes diários caiu de 13,5 horas para apenas 8 horas. Ou seja, o canal literalmente parou de tocar tanto clipe quanto antes. Com menos música para divulgar, fazia menos sentido manter cinco canais diferentes só de videoclipes.
- Realities em alta: Para compensar, a MTV passou a investir pesado em programas com gente “de verdade” – da ficção documental de The Real World às festas bizarras do MTV Cribs. Esses reality shows atraíam mais audiência que clipes, mas fugiam totalmente da proposta original de música. O foco virou pessoas falando, competindo ou mostrando ostentação, e o nome do canal passou a ser associado mais a esses formatos do que a seus VJs musicais.
- Cortes e fusões globais: A crise mudou o jogo. A dona da MTV, a Paramount (antiga Viacom), decidiu reduzir custos em massa. Assim, programas derivados de MTV, Nickelodeon e outros estão sendo cancelados mundo afora – na Europa, por exemplo, todos os canais MTV musicais já têm data pra terminar em 2025. Segundo reportagem, esse pacote de cortes envolverá também países como Austrália, Polônia, França e até o Brasil. Em suma, o encerramento dos canais musicais da MTV é parte de um reposicionamento global: manter apenas o “canal principal” (só de reality e atrações variadas) e abandonar a velha fórmula dos videoclipes.
Em outras palavras, o que começou como a revolução dos VJs virou adeus aos clipes na TV tradicional. A MTV Brasil, que já tinha virado canal pago em 2013, agora praticamente não toca mais os “videoclipes que mudaram a música” – e outros mercados seguem o mesmo caminho. Quem viveu isso (quem não lembra do Total Request Live ou do Disk MTV?) fica nostálgico, mas quem é jovem hoje mal sabe o que é esperar pelo clipe na telinha.
Por fim: o legado da MTV
No fim das contas, a MTV talvez não morra de vez. Os canais de música podem desaparecer, mas o impacto cultural fica. A marca continua viva nas redes e, sobretudo, na memória de quem cresceu com ela. A MTV foi realmente uma espécie de curadoria audiovisual para toda uma geração, mostrando não só música, mas também um estilo de ver e viver a cultura jovem. Mesmo hoje, a forma como consumimos música, clipes no YouTube, playlists com curadoria de influenciadores, shows ao vivo transmitidos online, descende desse modelo que a MTV inventou.
Em resumo, a MTV mostrou que “Video Killed the Radio Star” não era brincadeira: a música ganhou imagem, som virou espetáculo e artistas faturaram alto com isso. Ela descobriu e difundiu estrelas nacionais e internacionais, ensinou o Brasil a dançar de olho nos clipes, e ainda hoje a gente lembra da primeira vez que viu a Madonna ou Nirvana na TV. O cenário mudou e os canais de música da MTV estão se despedindo, mas a cena montada por ela, fica para sempre. Afinal, no fim das contas a MTV foi (e é) sobre cultura jovem, e essa ninguém tira.
Quem aqui foi “rato(a)” da MTV, levanta a mão! o/
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Referências:
Paramount to close MTV channels across Europe
Decline of MTV directly relates to less music video content
Is MTV shutting down? Truth behind rumors as network makes heartbreaking decision



