Quando Tyler, the Creator revelou seu nono álbum de estúdio, Don’t Tap the Glass, ninguém esperava uma virada tão radical. Lançado em 21 de julho de 2025 — menos de um ano após Chromakopia — o álbum surge como um manifesto inevitável sobre movimento, liberdade corporal e desconexão com o mundo superexposto.
Um álbum relâmpago, embebido em nostalgia e ritmo
Com apenas 10 faixas e 28 minutos, este projeto é o mais conciso da carreira de Tyler até hoje — um disco curto, direto e sem brechas. Não há singles anunciados, surpresas de última hora vindas de shows, instalações artísticas e até o lançamento de um site interativo foram parte do enigma que cercou o disco.
A música de abertura, “Big Poe”, chega como uma explosão de energia: samples de Busta Rhymes, batidas estilo N.E.R.D. e a presença fantasmal de Pharrell — embora não creditado oficialmente — deslancham o conceito do álbum: dançar, não pensar. Um verdadeiro ultimato: “Body Movement. No sitting still.”
Ritmo sem amarras: electro, funk, disco e Miami bass
Musicalmente, Don’t Tap the Glass é uma celebração de beats dançantes. Ele joga com gêneros como funk dos anos 80, synth-funk, disco, Miami bass e até rave britânico, tudo filtrado pela assinatura sonora indie de Tyler. Faixas como “Sucka Free” e “Stop Playing With Me” resgatam grooves de West Coast com influência de Zapp e Talking Heads, enquanto “Sugar on My Tongue” flerta com sensualidade em batidas electro.
Já “Ring Ring Ring” transforma temas de maluquice moderna (telefonemas perdidos, relações desconectadas) em funk orquestrado. E a balada “Don’t You Worry Baby”, com vocal etéreo de Madison McFerrin, traz cálida melancolia ao meio da festa.
Da introspecção ao descompromisso: Tyler sem filtros
Comparado com Chromakopia, álbum marcado por narrativa, conflito interno e autoconsciência, Don’t Tap the Glass não hesita em derrubar barreiras. Aqui, Tyler abandona personagens como Wolf Haley ou Sir Baudelaire e se assume como performer satisfeito — irreverente, ousado e com rejeição ao peso da profundidade.
Apesar de trazer momentos de humor bruto e declarações orgulhosas, não falta vulnerabilidade nas faixas como “Tell Me What It Is”, onde ele se revela ansioso em busca de conexão real: “Mama, I’m a millionaire, but I’m feelin’ like a bum”.
Pontos altos: brilho e frescor em cada batida
Algumas músicas se destacam como verdadeiros hinos de pista. “I’ll Take Care of You” combina synth emotivo com vocais pitchados, evocando um cuidado melancólico e sintético ao mesmo tempo. “Ring Ring Ring” e “Don’t Tap That Glass / Tweakin’” trazem rimas afiadas, baixos pesados e um espírito desafiador carregado de groove.
O clipe de “Stop Playing With Me”, lançado simultaneamente, conta com participações inesperadas de LeBron James, Clipse (Pusha T e Malice) e Maverick Carter, numa atmosfera irreverente onde Tyler dança rodeado por caixas de som gigantes — um reflexo visual da proposta física do álbum.
Críticas e ressalvas: qualidade variada em veículos de opinião
A recepção crítica é majoritariamente positiva, mas aponta inconsistências. Sites como Pitchfork referem que o álbum privilegia ritmo e estilo sobre elaboração emocional, sendo uma experiência vibrante mas menos profunda do que trabalhos anteriores. A Guardian destaca o caráter provocador do projeto: uma transição do introspectivo para o performático, sem narrativas complexas. Já fontes como Slant Magazine foram mais duras, criticando letras superficiais e falta de coesão emocional.
Por que vale a pena ouvir Don’t Tap the Glass?
Este álbum mostra Tyler em um novo movimento: menos refletido, mais expressivo. Ele evoca a música de club com autenticidade, fervor e uma pitada de nostalgia. É o álbum de dança dele, mas sem abandonar a ousadia. Um produto de quem domina a produção musical e explora a cultura hip-hop em busca de renovação.
Ainda que não alcance as alturas emocionais de Igor ou Call Me If You Get Lost, Don’t Tap the Glass representa uma evolução na discografia de Tyler. Menos formato, mais movimento. Menos drama, mais groove. Um Tyler solto, sem freios, disposto a ser festa e provocação ao mesmo tempo — mas com arte e personalidade intactas. Ele não convida você a entender, mas a dançar — alto, livre e com estilo.
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